sexta-feira, 23 de outubro de 2009







Mar Adentro  Ramón Sampedro
Mar adentro, mar adentro,
y em la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir um deseo.
Um beso enciende la vida
com um relámpago y um trueno,
y em uma metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro
del universo:
El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en um único deseo:
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo,
sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir com mi boca
enredada em tus cabellos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


Poxa, fico pensando:
criei esse blog com um intuito tão político e intelectual, e ele acabou se insurgindo contra isso e me prendendo por um vício tão meu:
escrever, seja pra chorar, pra rir, pra me desfazer de espinhos, ou pra entregar flores e amor.
Acho que essa menininha ao lado que escrevia no seu diário sobrepujou (e muito!) a pesquisadora.
Será que isso é bom ou ruim?
Pretendo, uma vez ou outra, postar sobretudo links úteis pra quem pesquisa sobre grupos indígenas, como eu, pra facilitar aos outros as coisas que pra mim foram tão difíceis.
Sempre assim,
"Pensando nos outros"
Kelly!!!!

domingo, 11 de outubro de 2009

Eu vou fugir desse marasmo
Vou sair da capital
Vou fugir desse marasmo
Vou morar no matagal
No mato a gente anda descalço
E pode tomar banho nu
No mato a gente anda descalço
E pode tomar banho nu
E de manhã fazer chapate
E à tarde eu tomo um chimarrão
Se à noite eu faço uma fogueira
Vou tocar meu violão
Vai rolar o som, vai rolar o som
E vai rolar um bom
Vai rolar o som, vai rolar o som
E vai rolar um bom
Eu já fugi desse marasmo
Já saí da capital
Já fugi desse marasmo
Vim morar no matagal
No mato a gente anda descalço
E pode tomar banho nu
No mato a gente anda descalço
E pode tomar banho nu
E de manhã fazer chapate
E à tarde eu tomo um chimarrão
Se à noite eu faço uma fogueira
Vou tocar meu violão
Vai rolar o som, vai rolar o som
E vai rolar um bom
Vai rolar o som, vai rolar o som
Até o dia clarear

O MENINO E O HOMEM



UANDO chovia, no meu tempo de menino, a casa virava um festival de
goteiras. Eram pingos do teto ensopando o soalho de todas as salas e
quartos. Seguia-se um corre-corre dos diabos, todo mundo levando e
trazendo baldes, bacias,

panelas, penicos e o que mais houvesse para aparar a
água que caía e para que os vazamentos não

se transformassem numa inundação.
Os mais velhos ficavam aborrecidos, eu não entendia a razão: aquilo era uma
distração das mais excitantes.
E me divertia a valer quando uma nova goteira aparecia, o pessoal
correndo para lá e para cá, e esvaziando as vasilhas que transbordavam. Os
diferentes ruídos das gotas d'água retinindo no vasilhame, acompanhados do
som oco dos passos em atropelo nas tábuas largas do chão, formavam uma
alegre melodia, às vezes enriquecida pelas sonoras pancadas do relógio de
parede dando horas.
Passado o temporal, meu pai subia ao forro da casa pelo alçapão, o mesmo
que usávamos como entrada para a reunião da nossa sociedade secreta. Depois
de examinar o telhado, descia, aborrecido. Não conseguia descobrir sequer uma
telha quebrada, por onde pudesse penetrar tanta água da chuva, como
invariavelmente acontecia. Um mistério a mais, naquela casa cheia de mistérios.
O maior, porém, ainda estava por se manifestar.


NAQUELE dia, assim que a chuva passou, fui como sempre brincar no quintal.
Descalço, pouco me incomodando com a lama em que meus pés se afundavam,
gostava de abrir regos para que as poças d'água, como pequeninos lagos,
escorressem pelo declive do terreiro, formando o que para mim era um
caudaloso rio. E me distraía fazendo descer por ele barquinhos de papel, que
eram grandes caravelas de piratas.
Desta vez, o que me distraiu a atenção foi uma fila de formigas a caminho
do formigueiro, lá perto do bambuzal, e que o rio aberto por mim havia
interrompido. As formiguinhas iam até a margem e, atarantadas, ficavam por ali
procurando um jeito de atravessar. Encostavam a cabeça umas nas outras,
trocando idéias, iam e vinham, sem saber o que fazer. Algumas acabavam tão
desorientadas com o imprevisto obstáculo à sua frente que recuavam caminho,
atropelando as que vinham atrás e estabelecendo na fila a maior confusão.
Do outro lado, entre as que já haviam passado, reinava também certa
confusão. Enquanto as que iam mais à frente prosseguiam a caminhada até o
formigueiro, sem perceber o que acontecia á retaguarda, as ainda próximas do
rio ficavam indecisas, indo e vindo por ali, junto à margem, pintando uma forma
qualquer de ajudar as outras a atravessar.
Resolvi colaborar, apelando para os meus conhecimentos de engenharia.
Em poucos instantes construí uma ponte com um pedaço de bambu aberto ao
meio, e procurei orientar para ela, com um pauzinho, a fila de formigas.
Estava empenhado nisso, quando senti que havia alguém em pé atrás de
mim. Uma voz de homem, que soou familiar aos meus ouvidos, perguntou:

Que é que você está fazendo?
Sem me voltar, tão entretido estava com as formigas, expliquei o que se
passava. Logo consegui restabelecer o tráfego delas, recompondo a fila através
da ponte. O homem se agachou a meu lado, dizendo que várias formigas
seguiam por um caminho, uma na frente de duas, uma atrás de duas, uma no
meio de duas. E perguntou:

Quantas formigas eram?
Pensei um pouco, fazendo cálculos. Naquele tempo eu achava que era
bom em aritmética: uma na frente de duas faziam três; uma atrás de duas eram
mais três; uma no meio de duas, mais três.

Nove!

exclamei, triunfante.
Ele começou a rir e sacudiu a cabeça, dizendo que não: eram apenas três,
pois formiga só anda em fila, uma atrás da outra.
Então perguntei a ele o que é que cai em pé e corre deitado.

Cobra?

ele arriscou, enrugando a testa, intrigado.
Foi a minha vez de achar graça:

Que cobra que nada! É a chuva

e comecei a rir também.

Você sabe o que é que caindo no chão não quebra e caindo n'água
quebra?

Sei: papel.
Gostei daquele homem: ele sabia uma porção de coisas que eu também
sabia. Ficamos conversando um tempão, sentados na beirada da caixa de areia,
como dois amigos, embora ele fosse cinqüenta anos mais velho do que eu,
segundo me disse. Não parecia. Eu também lhe contei uma porção de coisas.
Falei na minha galinha Fernanda, nos milagres que um dia andei fazendo, e de
como aprendi a voar como os pássaros, e a minha aventura de escoteiro perdido
na selva, as espionagens e investigações da sociedade secreta Olho de Gato, o
sósia que retirei do espelho, o Birica, valentão da minha escola, o dia em que me
sagrei campeão de futebol, o meu primeiro amor, o capitão Patifaria, a
passarinhada que Mariana e eu soltamos. Pena que minha amiga não estivesse
por ali, para que ele a conhecesse. Levei-o a ver o Godofredo em seu poleiro:

Fernando!

berrou o papagaio, imitando mamãe:

Vem pra dentro,
menino! Olha o sereno!
Hindemburgo apareceu correndo, a agitar o rabo. Para surpresa minha,
nem o homem ficou com medo do cachorrão, nem este o estranhou; parecia
feliz, até lambeu-lhe a mão. Depois mostrei-lhe o Pastoff no fundo do quintal,
mas o coelho não queria saber de nós, ocupado em roer uma folha de couve.
O homem disse que tinha de ir embora

antes queria me ensinar uma
coisa muito importante:

Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto da
sua vida?

Quero

respondi.
O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com
intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:

Pense nos outros.
Na hora achei esse segredo meio sem graça. Só bem mais tarde vim a
entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir. Mas que sempre
deu certo quando me lembrei de segui-lo, fazendo-me feliz como um menino.
O homem se curvou para me beijar na testa, se despedindo:

Quem é você?

perguntei ainda.
Ele se limitou a sorrir, depois disse adeus com um aceno e foi-se embora
para sempre.


Extraído do prólogo do romance O Menino no Espelho de Fernando Sabino

Eêe, meu blog que ficou abandonadinho.....

Mas eu estou aqui para mais um desabafo.
Tantas coisas que me inquietam, mas acredito que esta é a
pior de todas elas.
Ultimamante em minha vida tenho tido duas opções a seguir:
Ou falo o que acredito ou me calo.
Penso que este é o enigma que tenho a desvendar.
E por quantas e quantas e quantas vezes eu falei....
E muitos não compreenderam, me viraram as costas...
Infelizmente não sou do tipo de pessoa que diz a um amigo:
"sim, vá em frente"
mesmo sabendo que ele está caminhando para o precipício.
Eu prefiro, com serenidade e amor, tentar mostrar o que vem adiante...
Ou então, muitas vezes, mas muitas, muitas vezes
eu pedi desculpas, pedi perdão mesmo sabendo que eu não tinha errado
Só pelo medo de não ter mais ao meu lado aquelas pessoas que faziam parte da minha vida
Entretanto, bastou uma única vez, eu questionar, mudar de atitude e dizer:
"Eu é que me magoei"
que essas amizades se foram para sempre.
Porque as pessoas esperam tudo de nós:
todo sacrifício, toda renúncia, toda dedicação....?
e nem ao menos conseguem dar-se o mínimo que for?
Como no conto de Fernando Sabino, (Eu posto aqui depois)
alguém que eu não conheço me diz sempre:
"Pense nos outros"
Mas a cada dia que passa, vejo que muitas, muitas pessoas
se dizem profundamente preocupadas com questões que estão
completamente fora do seu alcance, porém...
aqueles que estão um pouco mais próximos só tem uma utilidade:
Bater palmas e dizer amém pra tudo de certo e de errado.
Esses, não despertam preocupação nenhuma. São apenas testemunhas mudas de tudo aquilo que deveria ser nosso sucesso. E se não form sucesso, as testemunhas mudas são obrigadas a fingir que é.
Acho que é nesse momento que minha origem indígena sai apenas do campo da genética.
Em tribo, as coisas são decididas em conjunto. Um "cacique" é apenas um representante que leva a outrém as decisões que foram tomadas por todos. O sentimento de grupo não permite que alguém veja o outro sucumbir sem querer ajudar.
Ao contrário da nossa sociedade, onde o comum é que se finja que tudo
está bem, o tempo todo.
Também sinto ( e em envergonho muitíssimo por isso) que muitas vezes comparo as escolhas alheias e acho que elas foram mais felizes do que as minhas, porque foram racionais, destituídas de sentimentos.
A questão não é apenas por que elas foram sem sentimentos, mas o que eu vejo é que as pessoas que fizeram essas escolhas, hoje não sofrem.
E eu sofro por minhas escolhas apaixonadas destituídas de razão.
Sofro muito por cada uma delas....
....mas
vejam como escrever é uma terapia com resposta tão rápida:
...acabo de me perguntar:
Será que os "racionais" não sofrem mesmo?
Ou será que eles apenas escondem a sua dor, pra continuarem dizendo que acertaram?
Fica aí o questionamento de hoje pra vcs, pois
eu já tenho a resposta!