sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Ode à Lua


Eu,  sentindo-me presa, dentro das paredes de pedra, vendo-a por um vidro. Ainda assim, a sua Luz  penetra-me os poros. Aquece meu coração. Seus raios de poder e êxtase me fazem saudosa de um tempo onde meus pés pisavam a terra. Todo o Tempo.  Fecho os olhos, e de repente, as paredes somem, a terra é quente sob meus pés, a música é forte. Outras mãos puxam minhas mãos, e eu giro na dança.
A saia balançava na mistura de dança e vento. Meu cabelo levitava com o vento, e em certos momentos, eu não sabia o que eram cabelos, o que eram folhagens.
A fogueira estava tão alta, que algumas vezes eu tinha a impressão de que as labaredas mais altas é que iluminavam as estrelas.

O canto que vinha das irmãs alegrava todos os meus sentidos, os abraços, os sorrisos. Eu estava em casa.
Em certos momentos, executávamos a dança sincronizada, cabeças baixas, reverentes,  filhas humildes e caprichosas, saudando a presença da Grande Mãe.
E no alto da noite, Ela ficava entre nós, abençoava nossos ventres, nosso coração, nossas ideias. Mostrava-nos os melhores caminhos, encorajava-nos nas nossas grandes decisões. Não havia como alguém não sentir-se feliz e amado em Sua PRESENÇA. O coração se enchia de esperança e bons conselhos.
Quando a noite começava a se cansar, nós também sentávamos ao redor da fogueira,  já mais baixa, entre ombros e colos, e Ela nos contava histórias de épocas muito remotas, de terras muito distantes, onde gigantes caminhavam, e o Poder habitava todos os seres.
Faltando algum tempo para o sol voltar a brilhar, nós, felizes e exaustas, voltávamos para o acolhimentos de nossos catres perfumados. Para um amanhecer que curava as feridas do corpo, do coração. Dormíamos horas sem sonhos, mas acompanhadas pelos sorrisos.
E eu... Abri os olhos. Vi teto, parede, cortina e vidro. Mas guardei na lembrança o presente da Lua, em forma de recordação.