terça-feira, 26 de setembro de 2017


ORAÇÃO DE LIBERTAÇÃO DA DOR ANCESTRAL DA LINHAGEM FEMININA
Amadas mães, avós e irmãs…
Hoje e para sempre
Soltamos as recordações dolorosas que nos unem àqueles atos, pensamentos e sentimentos presentes na nossa linhagem feminina, onde está envolvida a linhagem masculina em seus piores aspectos.


Pelos maus tratos à nossa Essência Feminina em palavras, atos, pensamentos e sentimentos.

Eu sinto muito.

Me perdoe.

Te amo.

Sou grata.


Onde a obrigação estava acima do amor

Onde a indiferença era aceita como algo “lógico” pelas nossas tarefas cotidianas.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Quando o descanso quase não existia, pois nosso ritmo de trabalho era muito além do nascer e do pôr do sol.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Quando o amor do homem para a nossa Essência Feminina era um ato para sua satisfação pessoal, esquecendo nossos sentimentos profundos de amor, nossa entrega cotidiana, nosso amor em silêncio apesar da desvalorização, a indiferença e a falta de amor.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Pelas memórias ancestrais de toda a nossa linhagem feminina familiar e mais além dela.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Pela cura total, pela liberação total de toda ferida de ontem e de hoje.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Hoje e para sempre nos perdoamos, nos amamos no respeito absoluto da nossa Essência Divina Feminina, para ser fonte viva de amor ilimitado.
Curando todo ressentimento.
Perdoando cada ferida recebida.
Amando a todos por igual.
Eu sinto muito.
Me perdoe.
Te amo.
Sou grata.

Renascemos em nós mesmas em nossa nova Linhagem Divina Feminina onde a paz, o amor, a compaixão e a misericórdia como laços de cura unem o separado, cicatrizam o machucado, soltam o rancor e a ira.
Renasce em equilíbrio perfeito onde o Feminino e o Masculino são livres, sãos e complementares.
Amantes do Amor Ilimitado.
Assim é, assim está feito.

(Tradução livre por Elisa Rodrigues de Oración de liberación del dolor ancestral del linaje femenino)
* Fotografia tirada na Nicarágua por Candelaria Rivera, do ensaio fotográfico: “Amor de Campo”

terça-feira, 19 de setembro de 2017

As Cartas do Caminho Sagrado



       Desde meus 13, 14 anos que eu via significados nas cartas. Nem necessitavam ser cartas de Tarot.
       Bastava algum ser humano mais incauto jogar buraco ou truco próximo a mim, que as cartas da sua mão já tomavam algum significado.
       Era um infortúnio. Sentia-me uma perfeita invasora de privacidade.
       Com o tempo, fui aprendendo os mecanismos de tiragem das cartas, alguns jogos ou disposições das cartas, sempre com outros cartomantes mais experientes, que  nem precisavam ensinar muito.               Bastava um jogo, e eu já estava lá, reproduzindo fielmente.
       Passado um bom tempo, depois de me aprofundar no Tarot, sobretudo em seu uso terapêutico, justamente quando eu conheci de perto as práticas xamânicas, também fui apresentada às Cartas do Caminho Sagrado.
       Esta é a descrição que podemos encontrar no site da Editora Rocco, que o publicou aqui no Brasil:

“Na tradição dos povos indígenas da América do Norte, a atenta observação da Natureza é uma regra de vida que se cumpre com amor e alegria. Todo o conhecimento acumulado é um repositório de noções precisas sobre os modos de ser revelados pela Mãe Terra em suas interações com os fenômenos cósmicos. A adequação de todas as formas de vida aos ciclos e ritmos telúricos é considerada fundamental para a saúde não só de seres humanos e animais como também do próprio planeta. Esse respeito amoroso por tudo aquilo que acontece e condiciona a presença de homens e mulheres no mundo é um traço de união entre as inúmeras tribos do hemisfério norte e é também uma característica que se sobrepõe a todas as peculiaridades que as distinguem.
Para a autora, que é membro dessa comunidade, não foi difícil harmonizar os ensinamentos escolhidos no seio das nações Seneca, Asteca, Choctaw, Lakota, Maia, Yaqui, Paiute, Cheyenne, Kiowa, Iroquesa e Apache, e, obtida a aprovação de seus maiores, difundir, para além das fronteiras tribais, essas preciosas lições de vida.
O livro acompanha 44 cartas primorosamente ilustradas, contendo cada uma delas um sentido e uma mensagem particulares, que podem ser usadas uma a uma em consulta diária ou organizadas em seqüências que apontam diversos caminhos para o conhecimento interior. Utilizadas com o texto correspondente, que explica as várias formas e métodos de interpretação e adivinhação, as cartas revelam-se a serviço da intensificação da autoconsciência e da mudança positiva. As cartas do caminho sagrado visam, portanto, auxiliar o inquieto peregrino espiritual em sua viagem de autodescoberta, abrindo-lhe as portas para novos modos de pensar, de viver, de ser.”

       Confesso que no nosso primeiro contato, eu e as Cartas não tivemos uma afinidade muito grande. Hoje eu percebo que isso aconteceu exatamente por que aquilo que as cartas diziam naquele momento eram tudo que eu não suportava ouvir, e por isso fiz “ouvidos moucos”, fechei os olhos da intuição.



       Entretanto, com o passar do tempo, elas foram me atraindo muito, num crescente tão forte, que mesmo com edições esgotadas, eu comprei o livro usado, e imprimi as cartas, apenas para ter o prazer de usá-las. Era tal qual um chamado.
       Pois bem.
      Obedecendo ao Instinto, imprimi as cartas, e fiz meu primeiro jogo, que se chama A Kiva. O livro tem vários outros tipos de jogos e arrumações das cartas, entretanto, o jogo da Kiva é o único que só pode ser feito APENAS UMA VEZ. Obviamente, pelo seu caráter perene, este foi o primeiro jogo que eu fiz para mim mesma. Vejam as fotos:




     Foi um ritual lindíssimo, no dia 05/07/2017.
    Na próxima postagem darei detalhes sobre como é o Jogo da Kiva, e a interpretação da primeira carta que tirei.


       Saudações! 
       Ahow!
       De Nuvem Branca. 


Navalhas e vozes


Vozes, vozes, vozes, vozes… Ela ouvia as elétricas, ouvia as mais humanas. Já ouve tempo em que era a sinfonia de gritos de palavras vindas de corações maldosos. Ainda antes ouve tempo em que as palavras eram indiscretas, mordazes e lascivas. Revelavam segredos podres que ela não queria ouvir.
Hoje pareciam apenas acordes de uma sinfonia inusitada. Ela já teve ódio das pessoas e suas palavras. É verdade, seu tempo mais feliz ocorreu no tempo em que passou absolutamente só. No tempo em que significava desespero e fracasso ouvir outras vozes.
Mas ela passou por isso. Transcendeu a raiva. Talvez nem fosse uma legítima aversão. Talvez até fosse afinidade. Mas melhor mesmo era fingir-se soberba, superior. Entretanto, aquela altura, já aprendera a desligar-se de suas falhas, e conseguia escutar. Ultimamente, ia além. Observava olhos, gestos. Era prazeroso descobrir segredos que as pessoas não conseguiam camuflar. Ela percorria feições, cacoetes. Elaborava delicadas prováveis personagens. Talvez apenas pelo prazer de condená-las ou absolve-las. Ser juíza e algoz. Prazer nefasto.
Observar dores e desenhar se elas são ou não merecidas. Apontar o lápis e observar desejos secretos, ajustamentos de braços e mãos que sentenciem possíveis traições.
Olhares cúmplices de ciúme e vergonha. Aqueles momentos únicos em que olhares se cruzam e investigam até mesmo aquilo que não queremos admitir. Dentro das pessoas existem desejos de morte. Os olhos dela adentram a parte suja dos corações.
E se deliciam. Também existe maldade dentro dela. Mas ela não a nega, nem cultiva culpa. Ela sorve o conteúdo dos lábios, ao ver que o mal insiste em não se materializar por muito pouco.
Dores que ela ambiciona por ser cúmplice.
As paredes são de um amarelo bem claro, as luzes são insistentes, quadradas, fortes e múltiplas.
Na cadeira ao lado, sons de uma boca muito parecida com uma que ela ama e odeia. A conversa sem hostilidades se faz tão prazerosa. É como uma conversa com ela, mas sem as armaduras. Um chá da tarde, num lugar bonito. Duas damas confidentes, elegantes e maliciosas.
O tempo a leva embora, os dedos estalam, e logo ela se percebe no limiar da dor. Minto. Nem tanto a dor. Mais a prova viva, inegável, purulenta e adornada de pus, que apenas reflete a ela o quanto ela permitiu-se vulnerável. Não é culpa. Ela não perde tempo. Ela apenas queria saber por que. Qual mecanismo de portas? Trincas? Ferrolhos? Chaves? Maçanetas? Portas? Tampas? Uma janelinha? Teria ela serrado alguma grade?
O que ela teria deixado aberto? Onde ela teria sido descuidada? Sem lamentações. Ela apenas precisava saber em que ponto tinha acontecido o vazamento, para conte-lo abruptamente.
Não se permitia ser fraca. Não se permitia esquecer suas origens. Queria apenas conseguir ser mais atenta.
Tinha outras opções. Será que esse era o início de sua quase morte? Nesses tempos, isso ainda seria necessário? Não negava que adoecia em todos os órgãos possíveis. Infecções da alma por todos os lugares.
Não poderia aceitar a outra possibilidade. A tristeza. Será mesmo que ela teria aberto todas as possibilidades infecciosas possíveis para a sua alma? Se assim ocorreu, não poderia deixar de se surpreender com tamanha façanha. Mesmo para quem ambiciona morrer, esse ainda podia ser visto como um grande feito. Imagine abrir todas as comportas da carne, vulnerabilizar-se por todos os poros?
Dê certo modo, ela compreendia que, de tanto ouvir aos outros, ficara surda para si mesma. Criou dentro de si um jogo onde apenas ganhavam aqueles que não tinham por si mesmos o menor vestígio de compaixão.
Tudo que chegava perto disso, ela rejeitava veementemente. Criou para si a metodologia de que viver era um surfista já velho e enfraquecido pelo tempo, mas que mesmo assim tentava dominar as melhores ondas. Uma luta completamente injusta e desigual. Viver significava atirar-se no precipício, sem preocupar se com cortes, escoriações, ossos quebrados ou com a morte. Ela, achando-se boneco de plástico flexível, viveu por entre quedas em abismos… Quase sempre.
Entretanto, nesse momento, ferimentos à mostra, infeccionados de morte, ela sabia que precisava viver. Não permitir que se escapasse por entre seus dedos, o restinho de vida que ainda podia agarrar. Pó de canela que se sopra.
A vida era hoje, agora. Atriz exímia que era, fingia muitíssimo bem um interesse pela vida, uma fome de conhecimento. Buscava o Sagrado. Aconselhava pessoas tão profissionalmente, que nem a maldadezinha se manifestava nessas horas. Mas existia um momento onde se revelava a fresta. Ao acordar. Não nos dias em que ele a acordava com beijos. Nesses não acontecia. Naqueles em que o despertador tocava a musiquinha de ninar, acredito eu que acontecia, mas a pressa a colocava rapidamente em contato com esse tempo e esse espaço. Sei que o Grande Buraco apresentava-se com todas as suas garras quando ela acordava sozinha e sem pressa. Uma pequena voz, chata e incoerente, murmurava pequenas frases desconexas, que ela teimava em não ouvir: “que merda”, “isso não acaba nunca” “quero voltar” “por que tenho que sair daqui?” “Não quero voltar para aquele lugar” “existe algo no mundo que me faça ter vontade de estar ali?”…
Ela sabia o que significava. Mas até então entendia como algo comum. Quem não quer permanecer no círculo energético? Quem não quer não sair nunca de perto dos melhores amigos?
Mas nem ela poderia vislumbrar que o inconsciente põe em prática seus desejos. Quem imaginaria que o seu próprio inconsciente seria obstinado ao ponto de abrir as portas do seu corpo físico para a morte? Mesmo você não desejando isso. Ou enganado, achando inocentemente que não quer.
Ela ficava sem fôlego, sentindo que seu inconsciente tentava mata-la, e ela nem ao menos sabia onde seriam as próximas navalhadas. Precisava lidar com isso.

O que você faria, caso sua mão esquerda tomasse vida própria, agarrasse uma navalha, e tentasse te matar, golpeando sem obedecer-te?