domingo, 27 de janeiro de 2013

Texto sem nome


Eu sinto que nesse momento, ele se desespera...
Chora como criança pelas expectativas frustradas...
E se existe algo lindo nesse homem, é a capacidade de chorar como criança.
Me encantam a vermelhidão dos olhos, os seus cílios que ficam mais longos com as lágrimas...
Me encantam as olheiras que costumeiramente se escondem, mas que aparecem com toda a força quando ele chora... Demonstram um cansaço tão escondido, e ao mesmo tempo tão latente, pronto pra aparecer... Basta que meu amor chore.
Sei que parece lastimável que eu o admire chorando, mas o que eu posso fazer, se tudo que vem dele me traz beleza e paz, até mesmo a tristeza?...
Seu coração dói, eu posso sentir.
O desespero que ele sente é contido, abafado pela imobilidade que só o passado pode trazer... E ele se sente imóvel pelo passado que não pode modificar.
E, talvez, por isso, agite seu corpo desordenadamente, talvez tentando fisicamente vencer a imobilidade que está em sua alma...
Em meio à dor, ele tenta se agarrar a qualquer coisa, tenta não se afogar em lágrimas, e tenta não chorar...
Mas logo em seguida, meu Anjo percebe que se não chorar, irá morrer sufocado com tristeza...
E então decide chorar...
E as lágrimas caem subitamente geladas, descem pelo rosto congelando os espaços onde tocam...
E ele se surpreende, e se pergunta: será que estou congelando por dentro?
E sendo o homem que é, quente, apaixonado, faz a sagrada opção de deixar toda a frieza escorrer...
Não, não, eu não sou frio, e nunca serei – Ele decide...
E nesse momento, ele relembra tudo o que já fez, todo o sentimento derramado, todo o amor doado e dilapidado...
E mesmo ferido de morte, aquele que eu amo desde o sempre não se permite morrer... e recusa o abraço do arrependimento...
Ao menos, esse ele pode recusar, já que a dor nos abraça mesmo quando não queremos...
E eu olho tanto pra ele....
Aquele corpo já um pouco cansado, com sorriso gigante de menino, a cabeça pendendo pro lado, segura com a mão, num sentar displicente e esquecido de si, em uma cadeira já velha...
Suas pernas grandes e desajeitadas dão-lhe um jeito tão seu, de criança que cresceu demais e não controla o corpo...
Seu rosto moreno demonstrando seu convívio íntimo com o sol e a natureza...
Seu olhar tão triste, olhar que traz ao fundo uma eterna ausência, uma eterna busca, que, Deus meu, será que um dia finda???
Confesso que ás vezes evito os seus olhos...
Seus olhos dizem da minha falta...
Seus olhos cobram uma presença ainda impossível, e como isso dói...
E como dói em mim presenciar os momentos em que ele, exausto, cobra a minha presença, e me acusa injustamente de tê-lo abandonado sozinho à crueza do mundo??
Oh, Deus, como eu gostaria, por um instante, de dizer-lhe que não foi minha opção...
Como eu gostaria de olhar nos seus olhos tristes e dizer que eu daria a minha alma, daria tudo de mim, pra poder apenas segurar a sua mão...
Mas ele não ouvirá... eu sei disso...
E mais dolorido ainda, é quando ele tenta conter esses pensamentos, por que sabe, simplesmente sabe que eu estou por perto, e não quer que eu sofra, não quer que eu me culpe, por uma decisão que foi nossa, há muito tempo atrás...
Mas mesmo ele sabendo que ninguém tem culpa, não nego que eu ainda me pergunto por que eu não tive a coragem de segurar no seu braço???
Por que eu não tive a coragem de lhe dizer nos olhos: “Nós não conseguiremos!!! Nós não sobreviveremos!!!”??
Por que eu, como sempre, vi sua alegria e suas esperanças, tais quais às de uma criança, e não tive coragem pra dizer que quase morreríamos juntos e ao mesmo tempo separados???
Por que eu antevi, mas não tive coragem de dizer que nossos corações seriam arrancados pela ausência??
Por que eu pressenti, mas não disse, que a solidão seria insuportável, e nos corroeria até a loucura?
Espero que um dia o conforte saber que eu senti em mim cada uma das dores de sua alma...
Quem sabe a dor dividida não foi de certa forma um pouco mais suportável, pros nossos espíritos imortais, que sabem de todas as coisas??
E, logo depois que eu penso todas essas coisas, ele, o homem que eu amo, me surpreende como sempre, quando olha em minha direção, mesmo não me vendo, e imagina que, em algum lugar, de algum modo, existe uma mulher que sente uma ausência indescritível de um homem que ela ainda não conhece...
Uma mulher que dentro de si guarda o amor de todo o mundo, a pureza de todo o mundo, que foram há muitas eras atrás, destinados a serem somente dele...
E de algum modo, ele SABE que a mulher que ele deseja sou EU.
E nesse momento, eu agradeço, e me emociono com essa entrega inaudita, com esse olhar que não vê, com esse abraço que não sinto...
Eu sei que ele ainda sofre, sei que ainda hesita, mas o mais importante é que ele ainda mantém as esperanças...
Agora, me basta saber que ele me sente...
E sim, obrigada, Deus, por eu saber que ele me sente...
Ele, o meu menino, de sorriso infantil, de coração descompassado, aquele que ainda não perdeu o medo de se entregar ao amor... ao meu amor, um dia.